Localização proposta para a UHE de Belo Monte. Imagem ISA
A Vila de Belo Monte, que cedeu seu nome ao mega empreendimento hidrelétrico que se estuda no rio Xingu, no Pará, tem hoje uma pequena população de cerca de 130 habitantes. Esse número vai dar um salto para 8,7 mil pessoas durante as obras porque é nela que ficará o principal canteiro de obras da usina e por isso mesmo vai abrigar o principal acampamento.
A profundidade das águas do rio Xingu nesta pequena parte da cidade de Vitória do Xingu, a 60 quilômetros de Altamira, pode chegar em alguns pontos a 200 metros. Os pescadores da região contam no entanto que o mais comum é uma profundidade de 50 a 70 metros. Isso significa que pelo menos nesta parte da chamada volta grande do rio Xingu é difícil que o rio seque, como os ambientalistas acreditam que vá acontecer em outros pontos dos cerca de 100 quilômetros de rio que terão sua vazão reduzida. Reportagem do Valor Econômico
Enquanto em Altamira haverá alagamento, nesta parte do rio o efeito será o contrário pelas características do projeto. Serão construídas duas usinas hidrelétricas. Uma delas será de 233 megawatts (MW) no ponto de começo da volta grande do rio Xingu, no extremo norte da cidade de Altamira. Essa casa de força será responsável por desviar parte do rio que vai adentrar e alagar cerca de 516 quilômetros quadrados da floresta em direção à Belo Monte.
Para fazer esse atalho, serão escavadas toneladas de terras e rochas para formar dois canais com 12 quilômetros de cumprimento e 20 metros de profundidade. A largura de um será de 600 metros e o outro de 400 metros. Estima-se que o volume de terra a ser retirado dessa parte da obra seja maior do que o escavado para a construção do canal do Panamá. Esses canais é que vão direcionar a água, em uma queda na extensão total de um ponto a outro da volta grande do Xingu de cerca de 90 metros.
Com a queda será possível gerar a energia na usina de Belo Monte, no vilarejo de mesmo nome, do outro lado da volta grande. Essa sim é que terá uma capacidade instalada de 11 mil MW. Mas apesar de ter uma capacidade tão grande, para reduzir o volume do reservatório e ainda manter a vazão do rio, na média será possível gerar menos de 4,5 mil MW.
Com o desvio, o volume de água nessa parte do rio será consideravelmente reduzido gerando um grande impacto na fauna e flora. Há quem tema até mesmo que a floresta possa secar. Para os índios das aldeias Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu, a redução do volume de água é a principal preocupação. O cacique José Carlos Arara diz que os estudos de impacto ambiental não deixam claro como esse fator vai afetar a vida dos índios. Na altura da aldeia dos araras, as águas na época mais seca não chegam a dois metros de profundidade. Isso significa que com a redução do volume, a navegabilidade pode ser comprometida.
Eco Debate, 19/09/2009
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